Muito se fala no papel de protagonismo e empreendedorismo atualmente atribuído às mulheres. De fato, vivemos uma era de cada vez mais respeito e reconhecimento da capacidade e versatilidade das mulheres no mundo dos negócios.
Que conseguimos gerir grandes empresas e liderar grandes iniciativas, não há a menor dúvida. Por um processo histórico de machismo estrutural, só não tínhamos tido ainda essa oportunidade.
Porém, ouso afirmar que nossas potencialidades vão muito além do horizonte empresarial. Percebo que nós, mulheres, somos dotadas de uma sensibilidade e de uma força interior descomunal. Nosso empreendedorismo nasce como os filhos que geramos: do ventre para o mundo.
Em primeiro lugar, conseguimos com maestria gerir um lar e uma família. Há as menores, formadas por um único e simples amigo canino, ou por um companheiro ou companheira que mora em outra casa. Tem aquelas que são verdadeiras comunidades, grandes e complexas, que envolvem enteados, agregados, filhos, pais e irmãos pelos laços do coração.
Sem dúvida, não é tarefa fácil, mas essa atribuição social desde sempre nos foi delegada e, de uma forma ou de outra, somos as grandes gestoras do lar e da família. Por aqui, não é diferente. Sou filha, esposa, mãe de duas crianças, dois cachorros e administradora de duas casas (não abro mão do meu cantinho no mato). Esses papéis me ensinam, diariamente, valorosas lições sobre organização, paciência, amorosidade, lealdade e especialmente sobre fé, na vida e nas pessoas.
Além disso, nós mulheres sabemos como ninguém formar redes de apoio e promover ações comunitárias. Nascemos para o empreendedorismo social e nos fortalecemos nele. Pode ser uma associação, um templo religioso, um grupo de atividades, de estudos ou mesmo um encontro periódico entre amigas. Nesses espaços, nós nos costuramos, remendamos e nascemos de novo.
Estamos ali, prontas a ajudar, a trocar, a demonstrar solidariedade e compaixão para outras mulheres e para os problemas de nossa comunidade. Falo também por mim. Já fiz diversos trabalhos comunitários, já atuei com crianças e idosos. Me sinto viva e feliz durante as palestras que ministro na casa espírita que frequento, nas conversas dos diversos grupos de amigas e nas aulas de pilates apenas para mulheres. Estou sempre pronta a ajudar alunos, colegas de trabalho e qualquer pessoa que precise de apoio. Percebo, claramente, que isso também é empreender!
Já na vida profissional, a mulher empreende com todo o seu poder e capacidade de entrega e de trabalho. Seja numa grande organização, seja numa pequena empresa ou num empreendimento autônomo, existe um ingrediente que nunca falta: amor pelo que se faz. A empatia é também um diferencial, especialmente naquelas mulheres que conseguiram, mesmo diante das adversidades, desenvolver sua autoestima e autoconfiança.
No mundo do trabalho, sinto que nós mulheres buscamos mais do que o sucesso ou o dinheiro, embora sejamos muito merecedoras de tudo isso. Nós buscamos realização profissional. Queremos ser referência no que fazemos e colocamos nossos corações nessa jornada.
Em todas as atividades profissionais que abracei, eu sempre imprimi a minha marca. Na docência, eu encontrei o espaço salutar da troca de ideias, ancorada no ideal de transformação social que vejo na educação.
Posso dizer que empreendi e empreendo em sala de aula! Oficinas, seminários e atividades criativas são alguns dos recursos frequentemente utilizados para mobilizar os alunos. Já são quase duas décadas de aulas remotas e presenciais, em salas de aula tradicionais, laboratórios, auditórios e corredores. Como diria o saudoso educador Padre Geraldo Magela, numa escola até as paredes educam.
Para além da docência, ainda tem muito mais. Quando descobri as perícias judiciais, me encantei pela arte de estudar os conflitos na busca pela justiça. Trabalhei arduamente nesse projeto. Me juntei a uma associação de classe, estudei, procurei as secretarias, busquei me fazer disponível. Para quem empreende com o coração, o trabalho nunca falta. Aos poucos, fui conquistando o espaço desejado.
Ainda no que se refere à profissão, considero a advocacia preventiva o meu grande empreendimento. É possível para um advogado viver apenas de consultorias? Minha trajetória me prova diariamente que sim. Acredito profundamente no que faço. Vejo que prevenir é construir pontes, estabelecer caminhos seguros e criar laços de confiança. Fui descobrindo gradualmente que a advocacia não precisa estar necessariamente associada ao conflito.
Minha clientela foi construída lentamente. Algumas das empresas, artistas e empreendedores que atendo estão comigo há muitos anos. São relações fortes, profundas, que me ensinam diariamente. Afinal, são amparadas em lealdade e confiança que vêm da força do meu feminino empreendedor.
Há também muitos novos clientes, que chegam de passagem, que aparecem periodicamente ou que vêm para ficar. Eles renovam a minha vida, propõem novos desafios, me estimulam a criar diferentes soluções. Acabo sempre definindo novas rotas para o meu negócio. A advocacia preventiva tem disso: não há rotina, porque a vida lá fora, assim como a minha vida interior, é cheia de surpresas.
Como o tempo da mulher empreendedora rende! Arranjamos braços para tudo isso e para muito mais. Não pode faltar tempo para o autocuidado, para a atividade física, para o lazer e para o descanso. Como verdadeiros polvos, abraçamos tudo o que queremos. Empilhamos pratos na bandeja com a maestria do garçom experiente.
É assim que, sem falsa modéstia, me sinto. Não bastasse tudo o que já faço, resolvi empreender na área digital. Tinha o sonho de ter meus próprios cursos na internet. Queria levar o conhecimento jurídico de forma simples e direta, aplicado ao dia a dia das pessoas. Assim, surgiu a plataforma Powerjus, um projeto que me traz orgulho e alegria.
Com a Powerjus, eu não apenas empreendo, mas ensino outras pessoas a empreender. Busco me empoderar pelo conhecimento jurídico e sinto que estou cumprindo a responsabilidade social que vem com a minha profissão. Sigo em paz na vida, com a alma feminina fortalecida, e buscando contagiar outras mulheres a empreender nas diversas áreas de suas vidas. Nada melhor do que compartilhar o prazer de descobrir a empreendedora que todas somos.
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